"- Vamos lá, seu preguiçoso miserável! - exclamou Sam para si mesmo. - Agora, vamos! - sacou Ferroada e correu na direção do portão aberto. Mas, no momento em que estava prestes a passar embaixo do grande arco, sentiu um choque: como se tivesse batido contra alguma teia como a de Laracna, mas desta vez invisível. Não conseguia enxergar obstáculo algum. Mas algo forte demais para que pudesse superar pela força de sua vontade barrava-lhe o caminho. Olhou ao redor, e então dentro da sombra do portão viu as Duas Sentinelas.
Eram como grandes figuras sentadas em tronos. Cada uma tinha três corpos unidos, e três cabeças olhando para fora, e para dentro, e através do portão. As cabeças tinham caras de abutres, e em seus grandes joelhos descansavam mãos em forma de garras. Pareciam ter sido entalhadas em enormes blocos de pedra, imóveis, e apesar disso estavam vigilantes: algum espírito terrível de vigilância maligna morava nelas. Conheciam quem era um inimigo. Visível ou invisível, ninguém poderia passar despercebido. Proibiriam sua entrada, ou sua fuga.
Forçando sua disposição, Sam lançou o corpo outra vez para a frente, e parou com um solavanco, cambaleando como se tivesse levado um murro na cabeça e no peito. Então, com enorme ousadia, porque não conseguia pensar em mais nada, respondendo a um pensamento repentino que lhe ocorreu, puxou lentamente o frasco de Galadriel e o ergueu. Rápido a luz branca ganhou vida, e as sombras sob o arco escuro fugiram. As monstruosas Sentinelas continuavam ali sentadas, frias e imóveis, reveladas em toda a sua forma hedionda. Por um momento Sam capturou um faiscar nas pedras negras de seus olhos, cuja própria malícia o fez vacilar; mas lentamente sentiu que a vontade delas titubeava e desmoronava de medo.
Passou por elas num salto, mas no momento em que fazia isso, escondendo o frasco de volta em seu peito, percebeu nitidamente, como se uma barra de aço tivesse descido de súbito atrás dele, que a vigilância fora renovada. E daquelas cabeças malignas veio um grito agudo que ecoou nas altas muralhas diante dele. Lá em cima, como um sinal em resposta, um sino estridente emitiu um único toque.
- Tudo acabado! - disse Sam. - Agora toquei a campainha da porta da frente! Bem, que alguém apareça! - gritou ele. - Digam ao Capitão Shagrat que o grande Guerreiro Élfico está aqui, e veio com a sua espada élfica!
Não houve resposta. Sam avançou a passos largos.
(...)
Todos poderiam estar mortos na Torre de Cirith Ungol, mas ela continuava cheia de terror e maldade.
Finalmente chegaram à porta que se abria para o pátio externo, e pararam. Mesmo do ponto onde estavam podiam sentir na pele a malícia das Sentinelas, figuras negras e silenciosas nos dois lados do portão, através das quais o clarão de Mordor palidamente se mostrava. À medida que iam fazendo o caminho em meio aos corpos hediondos dos orcs, cada passo se tornava mais difícil. Antes mesmo que atingissem o arco, fizeram uma parada. Avançar um centímetro era um sofrimento e um cansaço que lhes afetava a vontade e as pernas.
Frodo não tinha forças para aquela batalha. Caiu no chão. - Não posso continuar, Sam - murmurou ele. - Vou desmaiar. Não sei o que está acontecendo comigo.
- Eu sei, senhor Frodo. Aguente firme agora! É o portão. Há algum feitiço ali. Mas eu entrei, e vou sair. Não pode ser mais perigoso que antes. Agora vamos.
Sam puxou o cristal élfico de Galadriel de novo. Como se para fazer jus à sua coragem, e agraciar com esplendor sua mão morena de hobbit que realizara tantos feitos, o cristal brilhou de repente, de forma que todo o pátio sombrio se iluminou numa irradiação ofuscante como a de um relâmpago; mas a luminosidade continuou, e não se extinguiu.
- Gilthoniel, A Elbereth! - gritou Sam. Pois, sem que ele entendesse por quê, seu pensamento saltou de volta para os elfos no Condado, e para a canção que afastou o Cavaleiro Negro no bosque.
- Aiya elenion ancalimä! - gritou Frodo outra vez depois dele. A vontade das Sentinelas foi destruída repentinamente, como o romper-se de uma corda, e Frodo e Sam avançaram aos trambolhões. Depois correram. Atravessaram o portão e passaram pelas grandes figuras sentadas com seus olhos faiseantes. Abriu-se uma fissura. A pedra principal do arco se quebrou, quase caindo sobre seus calcanhares, e a parede acima desmoronou, caindo em ruínas. Escaparam por um triz. Um sino tocou, e das Sentinelas subiu um gemido agudo e aterrorizante. Lá em cima na escuridão ele teve resposta. Do céu negro veio descendo como um raio uma figura alada, rasgando as nuvens com um guincho pavoroso."
O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei, Livro VI, Capítulo I: A Torre de Cirith Ungol
Por Denis Zangrande e Dol Guldur:
Sentinelas
Atributos: Porte 14 (+4)*, Agilidade zero, Percepção 12 (+3)*, Força zero, Vitalidade 10 (+2), Espírito 10 (+2)
Reações: Vigor +2, Presteza +3, Força de Vontade +6*, Sabedoria +4
Perícias: Intimidar (Medo) +8, Observar (Sentir Poder) +6
Defeitos: Ódio (seres vivos), Dever (proteger o portão de um local), Juramento (servir a Morgoth e/ou Sauron)
Habilidades Especiais: Invulnerável (ver em Descrição), Terror, Ver o Oculto, Vigilância Maligna
Equivalente de NA: 15
Habilidades Especiais Únicas
Ver o Oculto: Nenhuma forma de disfarce, ocultação ou mesmo invisibilidade funciona contra as sentinelas. Os personagens sob efeito de algum poder ou equipamento, mágico ou não, que forneça alguma destas habilidades ou similares não têm qualquer vantagem contra os sentidos das sentinelas.
Vigilância Maligna: As sentinelas existem aos pares, mas funcionam como uma única barreira, impedindo aqueles de vontade fraca de entrarem ou saírem do local que elas guardam. Essa proibição conjunta impõem dois testes resistidos de Força de Vontade para ser quebrada, nos quais as sentinelas têm um bônus de +5. Se apenas um dos testes for vencido, o personagem não consegue passar, como se fosse bloqueado por uma teia invisível. Fracassando nos dois testes, não só a passagem é bloqueada como o personagem sente como se tivesse sofrido um golpe, recebendo 1d6+4 de dano que não é absorvido por armadura. Com dois sucessos consegue-se passar, mas as sentinelas emitem um grito agudo. Em caso de apenas UM sucesso extraordinário, não importando o outro resultado, o personagem não só consegue passar como destrói as sentinelas, que emitem um último gemido agudo e aterrorizante.
Descrição
Sentinelas são grandes estátuas esculpidas em pedras duríssimas, com diversas formas assustadoras. Normalmente seus olhos brilham fantasmagoricamente quando vistos de relance. Na verdade, sentinelas não são as próprias estátuas, e sim espíritos malignos presos dentro desta forma de pedra bruta. Apenas armas de cerco podem causar dano físico significativo à elas, pois resistem à corrosão e à passagem do tempo.
História
Há muito tempo espíritos malignos juraram lealdade a Morgoth e posteriormente a Sauron. Eram criaturas de grande maldade, e por isso foram aprisionadas em estátuas nas entradas das grandes fortalezas do Inimigo, causando medo e terror em qualquer um que ficasse diante delas, inclusive os seus próprios seguidores. Sua perversidade e seu poder se tornaram grandes armas para impedir que qualquer um entrasse ou saísse de qualquer baluarte da Sombra cujos portões estivessem sob seus cuidados.
Habitat
Sentinelas habitam as entradas das fortalezas do Senhor do Escuro, e possivelmente as entradas de salas que guardem algo de precioso, seja um tesouro ou o próprio Inimigo.
Sociedade
Sentinelas estão distribuídas em pares que funcionam como um único ser.
Uso
Estas temíveis estátuas servem de desafio para heróis que tenham a coragem de adentrar nas fortalezas do Inimigo e fazerem oposição à Sombra. Sentinelas lutam com poderes ocultos como o medo e sua vigilância maligna, sendo estes muito poderosos e efetivos.
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